Com 450 km de malha ciclo viária disponíveis, ciclistas enfrentam problemas no DF
Foram registradas 15 mortes nos quatro primeiros meses deste ano
Foto: Arquivo Pessoal
Sem carro: bicicletas são o transporte oficial de Uirá e sua família
Quem anda em família ou usa o camelo – apelido para bicicleta no DF – como principal meio de transporte no DF não tem vida fácil. De janeiro a abril de 2015 foram 15 mortes de ciclistas em todo o Distrito Federal. Ainda minoria, os mais variados tipos de adeptos do transporte sustentável enfrentam problemas nos 450 km da malha ciclo viária da “capital das ciclovias”.
Em meio a 1,5 milhão de automóveis, existem apenas 253.711 bicicletas no DF, segundo dados da PDAD (Pesquisa Distrital por Amostra de Domicílios) de 2013. Considerada a população da época de 2.786.684 habitantes, a média é de 0,09 bicicletas por habitante, enquanto há um carro para cada dois moradores da capital federal.
Mas os problemas não estão só na pouca quantidade de bicicletas. Há 15 anos Uirá Lourenço adotou a bicicleta como meio de transporte diário. Ele, que é morador da Asa Norte, região central do DF, acredita que há necessidade de uma mudança cultural em Brasília.
Incentivo?
Em meio à cidade planejada para os carros, Lourenço ressalta que o comportamento do motorista brasiliense é agressivo. O ciclista acredita que falta incentivo em campanhas educativas. Ele diz que não tem medo de usar a bicicleta em Brasília, mas que sente receio em relação aos usuários mais novos.
— Eu já estou habituado. Mas acho que a pessoa precisa ser incentivada a trocar o carro pela bicicleta.
Quem compartilha do mesmo sentimento é o empresário Ubirajara de Araújo, que pedala com a esposa, Patrícia Araújo, e o filho Guilherme, há seis meses.
— Eu tenho receio. A grande maioria dos motoristas respeitam. Mas alguns parecem passar perto de nós de propósito.
Neste ano, Rodrigo Rollemberg, governador do Distrito Federal, foi de casa, na Asa Sul, até o trabalho, no Palácio do Buriti, sede do GDF, de bicicleta. Na ocasião, o chefe do Executivo local pôde perceber como era o convívio entre ciclistas.
— Precisamos criar uma cultura de respeito ao ciclista. Além disso, garantir segurança nas vias para estimular as pessoas a deixarem seus veículos em casa, disse.
Conforme Renata Florentino, coordenadora da ONG Rodas da Paz, o número de carros não é um fator que desencoraje o brasiliense. Ela afirmou que o uso da bicicleta cresce a cada ano.
— Os prédios estão instalando bicicletários porque a população pede. Tem mais gente sendo estimulada a andar de bicicleta.
Ubirajara, Patrícia e Guilherme – pai, mãe e filho – que costumam praticar o esporte em família, tanto pela cidade quanto em trilhas naturais, contam que, além da qualidade de vida, foi possível construir novas amizades. Patrícia, no entanto, revela um motivo especial.
— Você tem outro ânimo, esquece das dores musculares e perde peso também! Além de ser uma forma de ficar mais perto do meu marido, que adora andar de bicicleta.
Ciclovias
Reprodução/Facebook
Ubirajara e Patrícia se apaixonaram por pedalar e construíram novas amizades praticando o esporte
De acordo com o GDF, são 450 km de ciclovias. A meta do governo é de chegar aos 659 km de vias para bicicletas até 2019. Para Uirá, as ciclovias cumprem seu papel, mas com ressalvas. Para ele, a falta de iluminação em alguns locais, por exemplo, cria um fator de insegurança à noite.
— A vontade [do governo] de tornar a cidade a capital das ciclovias é marcante. Mas pode melhorar. Às vezes, elas terminam do nada.
De acordo com a coordenadora da Rodas da Paz, a por mais que haja uma grande malha ciclo viária, é possível perceber que ela, sozinha, não garante o deslocamento com segurança e acesso à todos os lugares da cidade.
Uirá ainda chegou a fazer um relatório sobre as ciclovias da Asa Norte. Na análise, foram ressaltados alguns problemas como a falta de manutenção, conflitos com os pedestres e sujeira nas pistas. A Secretaria de Mobilidade do Distrito Federal informou que há, em conjunto com o DER-DF (Departamento de Estradas de Rodagem), Novacap (Companhia Urbanizadora da Nova Capital) e com as Administrações Regionais, um mapeamento sobre a malha ciclo viária do DF. Segundo a Secretaria, esse mapeamento conta ainda com apoio dos grupos de pedal do DF e ciclistas que utilizam a bicicleta no deslocamento para o trabalho e lazer.
Campanha e desafios
No último dia 14 de junho o Detran-DF (Departamento de Trânsito do Distrito Federal) deu início a uma campanha com foco na conscientização de motoristas e ciclistas para um trânsito mais seguro. A campanha, que não teve orçamento fechado, deve custar em torno de R$ 1,5 milhão, provenientes de infrações de trânsito, conforme prevê o artigo 320 do CTB (Código de Trânsito Brasileiro).
De acordo com o Departamento de Trânsito, a importância da ação está em reafirmar a convivência harmoniosa, pacífica e segura no trânsito, entre motoristas e ciclistas. Para Renata, a campanha do órgão passa a mensagem de maneira eficiente aos motoristas.
— É acertada a decisão de passar a mensagem do compartilhamento da pista, do direito do ciclista andar na rua, e de como o motorista deve ultrapassar os ciclistas nas ruas. É uma demanda antiga de muitos grupos de ciclistas.
Ainda de acordo com a coordenadora da ONG, um dos desafios enfrentados todos os dias é o compartilhamento das vias é um dos elementos mais importantes, até por uma questão estrutural da cidade. Conforme Renata, desde 2005, há uma redução nas fatalidades no trânsito relacionadas a ciclistas no DF.
— A maior parte dos motoristas do DF, tem uma atitude respeitosa no trânsito. A questão é que basta apenas um para causar uma fatalidade.
Para Uirá, a quantidade de carros no trânsito pode ser um fator que desanima a população a fazer uso da bicicleta. Carros estacionados em locais proibidos ou até em ciclovias acabam atrapalhando os ciclistas.
— Você tem uma cultura muito favorável aos carros. É necessário investir em fiscalização.
Segundo o Detran-DF, são feitas operações diárias de fiscalização em todo o Distrito Federal. O Departamento ainda ressalta que o cidadão pode fazer denúncias por meio do canal de sua Ouvidoria, através da internet ou pelo telefone 162.
Bicicleta compartilhada
Divulgação / GDF
Em um ano, sistema de bicicletas compartilhadas já registrou quase 250 mil viagens
Lançado há pouco mais de um ano, o programa Bike Brasília possui 300 bicicletas e já registrou 93.725 pessoas cadastradas. Elas fizeram 247.876 viagens neste período. Durante a semana, as “laranjinhas”, como são conhecidas popularmente, atendem quem precisa se deslocar ao trabalho. Mas os maiores registros de uso são aos sábados e domingos, quando há grande demanda turística.
Para Rafael Rodrigues, que mora no Guará (DF), e já utilizou o sistema em um final de semana na região central de Brasília, a iniciativa é funcional, colabora para diminuição de veículos nas estradas e contribui para a fuga do sedentarismo.
Ele, que está acostumado a andar de bicicleta em sua cidade, fala que olhar alguns lugares de dentro do carro é diferente de vê-los fora de um automóvel. Quando passou por esses mesmos lugares de bike, teve a sensação de observá-los pela primeira vez.
— Os nossos monumentos arquitetônicos surpreendem quem nos visita. Passar por eles de bike faz eu me sentir como turista.
Diariamente a empresa responsável pela manutenção faz rondas a fim de identificar problemas com as bikes e reabastecer as estações. Em caso de quebra, a bicicleta leva no máximo um dia para ser reparada ou substituída. Em caso de furto, há um sistema de rastreamento para recuperar as bicicletas.
Se quiser usar as laranjinhas, o interessado deverá fazer o cadastro no site ou no aplicativo do celular, informando o número da carteira da identidade, CPF e endereço. Além disso, é preciso pagar uma taxa anual de R$ 10. As bikes podem ser usadas gratuitamente por uma hora. A gratuidade é assegurada por mais de uma vez em um mesmo dia, desde que seja respeitado um intervalo mínimo de 15 minutos para a retirada da bicicleta pelo mesmo usuário. São cobrados R$ 5 por cada hora excedente caso a bicicleta seja devolvida após uma hora de uso.
Para destravar a bicicleta, o usuário pode usar o aplicativo disponível para smartphones Android e iOS ou ligar, do telefone celular, para o telefone 4003-9846. As estações funcionam por meio de energia solar e são interligadas por sistema de comunicação sem fio, via rede GSM e 3G, permitindo que estejam conectadas com a central de controle 24 horas por dia.
http://noticias.r7.com/distrito-fede...no-df-19092015