Moradores temem que novas ligações levem insegurança à comunidade
Francisco Dutra
francisco. dutra@ jornaldebrasilia.com.br
Odebate sobre a construção da ponte sobre o Lago Paranoá para ligar o Plano Piloto até o Lago Norte deverá sair do ponto morto em 2012. Segundo o secretário de Obras, Oto Silvério, o governo pretende retomar a discussão, que também inclui a criação de uma ponte entre o Lago Norte e a região do Taquari. A obra é polêmica, pois parte dos moradores do Lago Norte considera que ela poderá diminuir a segurança e prejudicar o trânsito na área nobre do Distrito Federal.
“A ponte do Lago Norte na verdade são duas pontes. Ela sai da Universidade de Brasília (UnB), vai até o Lago Norte (na região da 8/10).
Depois atravessa o Lago Norte e chega ao Taquari. O rascunho dessa ponte constava no projeto original de Oscar Niemeyer,” comentou Silvério.
O escritório do arquiteto responsável pelos traços mais marcantes na composição arquitetônica de Brasília entrou em contato com o GDF para levar a ideia à frente.
FLUIDEZ
Para o secretário Silvério, o projeto tem como meta desafogar o trânsito na ponte do Bragueto e oferecer uma rota rápida para moradores de Sobradinho, Planaltina e imediações chegarem ao centro de Brasília. “Você reduz a distância de 21 para nove quilômetros”. Em termos de tempo, significaria uma economia de 20 a 25 minutos no tempo de viagem.
Aproveitando o fluxo de parcerias Público Privadas (PPPs) em outras pastas do Buriti, o secretário de Obras estuda o mesmo modelo para garantir recursos para o complexo de pontes. Nas contas de Silvério, o projeto custaria R$ 500 milhões.
“Nós vamos, evidentemente, fazer um estudo, uma audiência pública e ouvir a comunidade. Posso afirmar que não será implementado de forma aleatória ou arbitrária”, comentou. Para minimizar os impactos no trânsito no Lago Norte, Silvério antecipou que o projeto deverá apresentar trechos em trincheira no bairro de alto poder aquisitivo.
O representante do escritório Niemeyer e ex-secretário de Obras do DF, Carlos Magalhães, lembrou que a discussão sobre o projeto começou entre 1986 e 1988. Mas foi deixada de lado pelos moradores do Lago Norte, temerosos de que uma segunda entrada para a região influísse na segurança da comunidade.
“Isso é uma bobagem.
A cidade tem que ser aberta para todo mundo”, rebateu.
Para Magalhães, o poder público não pode mais deixar que o Bragueto seja o único canal de entrada e saída para os moradores do setor. Nos horários de pico, a região enfrenta severos congestionamentos. Segundo o especialista, pelos traços de Niemeyer, a ponte em dois estágios será do tipo pênsil , com cabos. “Você tem que adaptar esse projeto. Botar mais pistas, ciclovias, faixa de pedestres, iluminação atual”.
Obra divide opiniões
A questão da nova ponte desperta questionamentos no Lago Norte.
O próprio administrador regional, Marcos Woortmann, acredita que a discussão do assunto deve ser aprofundada.
Para ele, no entanto, a solução para os engarrafamentos na ligação entre Lago Norte, Sobradinho, Planaltina e vizinhança e o Plano Piloto começa pela remodelagem da ponte do Bragueto.
“Bem, meu entendimento, que é o entendimento consensual entre os moradores do Lago Norte, é que a prioridade é a reforma e a readequação da ponte do Bragueto”, enfatizou.
Um dos itens do projeto seria a ampliação do número de faixas do trecho elevado. O administrador qualificou a obra de expansão do acesso ao Taquari como importante.
Para Woortmann , estes dois projetos teriam mais impacto para a população. Ele lembra, porém, que a ponte do Lago Norte será necessária quando as regiões habitacionais do Taquari II e Taquari III, previstas no Plano Diretor de Ordenamento Territorial, saírem do papel.
BLINDAGEM
O administrador não esconde que os moradores apresentam resistência pois, hoje, o Lago Norte é tido como o setor mais seguro do DF.
E dentro da percepção dos moradores, o fato da região ter apenas um acesso – na altura da ponte do Bragueto – faz parte dessa blindagem contra criminosos, pois a existência de apenas uma rota para entrada ou fuga facilita o monitoramento .
Na opinião de Woortmann, o Lago Sul tem problemas de segurança justamente porque há vários pontos de acesso, inclusive três pontes.
Mas Woortmann lembrou que segurança não é apenas zelo pelo patrimônio. “A pessoa que tem um Acidente Vascular Cerebral, um ataque cardíaco ou é picada por cobra precisa de um hospital, de uma Unidade de Terapia Intensiva. E se ele encontra um engarrafamento? Não é um risco?”, questionou.
Segundo Woortmann, é importante o governo ponderar sobre a questão para aumentar o lado positivo do projeto e minorar possíveis efeitos negativos.
http://www.clicabrasilia.com.br/edic...nal/pdf/08.pdf