Aperto no terminal
Planejada para melhorar o atendimento durante a Copa, a reforma do aeroporto promete uma grande e moderna estrutura, mas complica a vida dos usuários neste fim de ano
Píer Norte: a nova área de embarque deve ficar pronta até maio (Foto: Roberto Castro)
A temporada de férias e recessos chegou e, como sempre, aumentam os aborrecimentos dos usuários de aeroportos. Nesta época do ano, os saguões ficam abarrotados de pessoas e os costumeiros atrasos e cancelamentos de voos mexem com o humor dos viajantes. Não bastassem esses aspectos, quem pretende embarcar ou desembarcar em Brasília nas próximas semanas ainda deve se preparar para uma dose extra de contrariedade.
Na esteira da Copa do Mundo de 2014, que tem sete jogos programados para a capital, o Aeroporto Internacional Juscelino Kubitschek passou a abrigar uma portentosa reforma. Em consequência das obras, a vida de passageiros e acompanhantes se tornou muito mais complicada. Os dissabores aparecem antes mesmo que se chegue às instalações do Terminal 1, onde operam os aviões das principais companhias aéreas.
Não existe mais, por exemplo, o espaço vago que antecedia o estacionamento privativo. Nesse local, batizado de Praça Santos Dumont, era possível deixar o carro sem custo, com o único inconveniente de ter de caminhar um pouco mais para alcançar o saguão. Hoje, no lugar, há 1 800 vagas tarifadas para veículos.
Os que estão de carona ou táxi também enfrentam obstáculos, pois o trânsito ficou muito mais lento. “Antes, eu demorava apenas cinco minutos para descer do carro. Da última vez, gastei meia hora”, diz o consultor de credenciamento odontológico Robson Lins, que viaja a trabalho pelo menos três vezes por mês e afirma viver um pesadelo quando chega à região.
Antes do início das obras, duas pistas passavam pelo térreo do aeroporto. A mais próxima foi cercada por tapumes. A outra, paralela, agora permite apenas a entrada de táxis e veículos credenciados. No piso superior, a via para carros está em fase de duplicação e funciona no meio dos trabalhos de reforma.
Depois que o usuário sai do automóvel, o sentimento de confusão aumenta. A área do check-in está mais apinhada de gente e bagagens do que em tempos normais. Atualmente, as filas para as salas de embarque ficam ao lado dos guichês de despacho das malas e o antigo corredor de lojas, que terminava em uma livraria, deu espaço às máquinas de raios X.
No 2º piso, onde fica a praça de alimentação, tudo foi modificado. Os restaurantes tiveram sua localização alterada, apertando-se mais na direção das mesas, e o painel de Athos Bulcão, montado em uma das paredes, encontra-se fechado ao público.
Também para quem chega à capital, o aeroporto se mostra problemático. “Já fiquei esperando a mala na esteira por mais de uma hora”, afirma a administradora Kadydja Albuquerque, dona do blog A Gente Viaja. Kadydja usa o aeroporto duas vezes por mês e aponta outras dificuldades. “O acesso ao wi-fi está instável e o preço do estacionamento é impraticável”, afirma a blogueira. Para deixar o carro em uma vaga, pagam-se 5 reais por hora. O custo diário é de 31 reais.
Pelo calendário da Inframérica, a concessionária do aeroporto, os percalços com o canteiro de obras vão continuar, pelo menos, até o fim de 2014. “Temos plena condição de atender à demanda na alta temporada”, diz Alysson Paolinelli, presidente do consórcio. Para o executivo, a reforma deve interferir cada vez menos na rotina dos futuros passageiros. “Todo dia melhora um pouco”, afirma.
Por enquanto, os benefícios ainda não são sentidos pelos usuários. Mas, segundo o planejamento do consórcio, boas novidades vêm pela frente. Uma das maiores transformações planejadas é a criação de dois píeres — um para os voos domésticos e o outro para os internacionais. Nesses espaços, haverá praças de alimentação e comércios. Se o cronograma for cumprido, as estruturas estarão funcionando a partir de abril. Com essa modificação, o Terminal 1 passará dos atuais 72 000 metros quadrados para 97 000. Nos novos pontos serão abertos dezessete portões de embarque equipados com fingers, o nome dos túneis que levam os passageiros diretamente ao avião. Dentro da área de voos internacionais será inaugurado um Duty Free com quatro vezes o tamanho do atual. Serão 1 200 metros quadrados de loja, que venderão desde peças de vestuário até eletrônicos.
O saguão do check-in: filas para todos os lados (Foto: Roberto Castro)
O atendimento na hora de viajar também será incrementado com a instalação de 95 pontos de check-in automatizados e dotados de esteira rolante para o despacho das malas. Pela previsão da Inframérica, essa fase estará concluída em maio. O sistema de recepção de bagagem terá leitores ópticos que permitirão o rastreamento dos pertences durante todo o trajeto até as aeronaves.
Segundo o consórcio do aeroporto, o terminal abrigará um espaço vip de 1 800 metros quadrados, que se tornaria, então, o maior espaço do tipo no Brasil. Nele, serão oferecidos tablets e haverá salas de reunião, além de serviços como check-in exclusivo, auxílio de traslado de bagagem e massagem. Para terem direito ao ingresso no setor, com inauguração prevista para abril, os interessados pagarão uma diária ou se filiarão pagando uma taxa mensal, cujo valor ainda não foi definido.
Algumas mudanças aparecerão do lado de fora do terminal. No estacionamento, 700 das 3 000 vagas serão cobertas. Um dos projetos saiu do papel em outubro, quando foi inaugurado o hotel Base Concept, perto das concessionárias de carros. Com 361 apartamentos e diárias em torno de 350 reais, ele é o único hotel nas proximidades do aeroporto.
As obras que hoje atormentam os brasilienses estão orçadas em 1,1 bilhão de reais. Essas ampliações e melhorias previstas se justificam pelo fato de Brasília ter se tornado a principal receptora de voos de conexão do país. Em 2012, dos 15,8 milhões de passageiros que desembarcaram na capital, 6,71 milhões (42,5%) apenas trocaram de avião. “Reformada, essa estrutura será o maior legado da Copa para a cidade”, afirma Paolinelli, da Inframérica. Para os usuários, a maior expectativa é que os momentos de stress vividos agora resultem em um próspero aeroporto no ano de 2014.
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