Depois de esperar décadas por um trem de passageiros, três diferentes projetos de integração com o Entorno Sul estão nas pranchetas. Dois sob responsabilidade do governo federal e um da iniciativa privada. Nenhum desses projetos, até agora, tem a participação do Governo do Distrito Federal.
Por Chico Sant’Anna
Nem VLT, nem Trem Regional, nem BRT. A bola da vez, digo, modal da vez, para conectar o Entorno Sul ao Plano Piloto é o Metrô de Alta Velocidade, uma tecnologia usada por chineses, alemães e mais recentemente pela Índia. A proposta, que está desde o ano passado na mesa do Ministério dos Transportes aguardando o seu aceite é denominada Expresso Planalto Central. Semelhante ao Intercity alemão e ao Rapid X da Índia, ela promete conectar o centro de Luziânia ao Noroeste em 28 minutos, com uma paradinha ainda no Aeroporto JK. Essa, contudo, não é a única proposta de transporte ferroviário de passageiros que o governo federal está a analisar.
No cinema, os clássicos do far-west sempre mostraram a presença das ferrovias na chamada corrida para o Oeste. Numa época em que não existia Canal do Panamá, eram elas que iriam conectar Atlântico e Pacifico. Por isso mesmo, vários empreendedores lançaram-se simultaneamente a construir estradas de ferro. Brasília, agora, parece viver momento semelhante. Depois de esperar décadas por um trem de passageiros, três diferentes projetos estão nas pranchetas. Dois sob responsabilidade do governo federal e um da iniciativa privada. Nenhum desses projetos, até agora, tem a participação do Governo do Distrito Federal.
Trem Regional, Expresso Pequi, VLT… há muito, sonhos, estudos e projetos são realizados. Tanto a Superintendência de Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), quanto a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) fizeram os seus, mas nada se materializou. A expectativa agora é que não fiquem na gaveta.
Embora todos eles visem implantar transporte ferroviário de passageiros entre Luziânia e o Plano Piloto, os projetos em estudo não são, necessariamente, excludentes entre si. A princípio, eles focam objetivos e tecnologias diferentes de transporte. Além de entes federais, apenas Goiás é parceiro em uma das propostas, a que está sob responsabilidade da Companhia Brasileira de Trens Urbanos (CBTU).
A proposta da CBTU é usar um VLT movido a óleo diesel, semelhante ao do Expresso Pampa, no Rio Grande do Sul. De fabricação nacional, comporta 560 passageiros, podendo dobrar se acoplado a um segundo vagão.
VLT de Luziânia
Um acordo de cooperação técnica, no valor de R$8,446 milhões, já foi assinado pela CBTU com o governo estadual. Os recursos são provenientes de emenda orçamentária dos deputados goianos. O objetivo é mensurar a demanda de passageiros e avaliar as condições técnicas da ferrovia da extinta RFFSA, visando implantar uma linha de Veículo Leve sobre Trilhos (VLT), de Luziânia à Rodoferroviária. São 60 km numa região que é responsável por longos e demorados engarrafamentos.
Essa é uma proposta típica de transporte coletivo. Propiciar àqueles que trabalham ou estudam em Brasília uma alternativa mais confortável do que os ônibus e mais rápida do que os veículos. A linha teria início no Jardim Ingá, distrito de Luziânia, a 18 km do centro do município. Em Goiás, passaria pela Cidade Ocidental e Valparaíso, onde contaria com duas estações. A proposta, contudo, pouco contribuirá para melhorar o deslocamento interno de passageiros do Distrito Federal. Isso porque a CBTU só prevê três estações na Capital Federal e, consequentemente, poucas opções de integração com outros modais.
Com apenas duas paradas – na Estação Bernardo Sayão e no Guará – antes de chegar ao destino final na Estação Rodoferroviária, o trajeto proposto pela CBTU não favorece um maior uso pelos moradores do DF.
Trajeto
A entrada no DF dar-se-ia na altura do Polo JK, Região Administrativa de Santa Maria. A primeira estação candanga foi proposta para a antiga estação Bernardo Sayão, nas proximidades das Quadra 4 do Park Way. As duas outras estações seriam no Guará – a uns 800 metros da estação do metrô, onde poderia haver a integração – e a estação final, na Rodoferroviária, no final do Eixo Monumental, onde a proposta prevê integração com futuras linhas de ônibus.
Tudo leva a crer que a meta maior é implantar um modelo de transporte no padrão ponta-a-ponta, sem o tradicional pinga-pinga de passageiros. Desconsiderou-se a potencialidade de essa linha se materializar num tipo metrô de superfície – atendendo áreas como o Park Way, Metropolitana, Núcleo Bandeirante, Ceasa e os setores de Indústria e de Inflamáveis. Também não prevê a integração com ônibus nos cruzamentos com a EPIA, EPTG e EPNB, onde operam linhas troncais do tipo BRT. Um VLT com maior capilaridade tenderia a ter maior volume de passageiros, inclusive fora das horas de pico, tornando-se mais rentável.
Em audiência na Câmara dos Deputados, a CBTU estimou que a adaptação da ferrovia para uso por VLT deva custar R$ 760 milhões. No cronograma, até o final do ano que vem estarão prontos todos os estudos técnicos necessários, mas não há previsão de quando ele poderia estar funcionando. Propõe usar o VLT movido a óleo diesel, mas que pode ser híbrido também, semelhante ao do Expresso Pampa, no Rio Grande do Sul. De fabricação nacional, comporta 560 passageiros, podendo dobrar se acoplado um segundo vagão. A meta é que ele transporte 24.640 pessoas por dia, em 22 viagens, com tarifa de R$ 6,00, bem mais baixa do que os ônibus cobram hoje.
Passageiros
Atualmente, segundo a ANTT, apenas cerca de 37.200 pessoas usam diariamente ônibus para se locomover das quatro principais cidades do Entorno Sul (Luziânia, Cidade Ocidental, Valparaíso e Novo Gama) para Brasília. O maior volume procede de Valparaíso, 11.930 passageiros, seguido da Cidade Ocidental, 10.511. Essa é só uma parcela daqueles que se deslocam. A CBTU estima, que ao todo, são 65 mil pessoas saindo diariamente da região, sendo 20.351 de Luziânia e 44.500 de Valparaíso para trabalhar em Brasília. O estudo não quantifica os dados referentes à Cidade Ocidental.
Quem não vem de ônibus usa o carro e aí os engarrafamentos na BR-40 e na via Epia são inexoráveis. O DER-DF – que constrói nova faixa de rolamento entre a divisa com Goiás e o entroncamento com a DF-001 -, estima a circulação em 100 mil carros diários provenientes do Entorno Sul. Há que se somar ainda os oriundos do Gama e Santa Maria. O desconforto desse imenso volume de carros e caminhões chega até à Avenida das Nações e ao Eixo Rodoviário Sul, no Plano Piloto, tanto de manhã, quanto na volta, à tarde. Os bairros circunvizinhos à EPIA sofrem bastante. Até mesmo vias internas do Park Way, do Núcleo Bandeirante e Lago Sul se transformam em precárias alternativas para desafogar o trânsito. Só essa realidade já justificaria um investimento para que esse VLT também contemple o transporte coletivo intra-DF.
A proposta de Trem Regional de Passageiros é o foco do Ministério dos Transportes que pretende revitalizar a ferrovia da extinta RFFSA.
Trem Regional de Passageiros
Além do VLT, sob tutela do Ministério das Cidades/CBTU, o governo federal estuda por meio do Ministério dos Transportes, a possibilidade de implantar um sistema de Trem Regional, algo semelhante ao TER francês. A nova Política Nacional de Transporte Ferroviário de Passageiros busca transportar pessoas por meio de malhas ferroviárias já existentes e com o desenvolvimento da infraestrutura que já é usada para o transporte de carga. A estatal Infra S.A. – empresa resultante da fusão da Empresa de Planejamento e Logística (EPL) e da Valec – Engenharia, Construções e Ferrovias -, já assinou contrato para a elaboração de Estudos de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental (Evtea) voltados para o transporte de passageiros em três trechos: um no Rio Grande do Sul, outro no Paraná e o trecho Luziânia – Plano Piloto.
O Trabalhos está a cargo do Consórcio Ferrovias Centro-Sul. No valor de R$ 3,343 milhões para os três trechos – sendo R$ 961,6 mil para Brasília-Luziânia -, ele avaliará as dimensões de mercado, demanda, obras necessárias. O estudo também apontará qual o melhor equipamento para modal e onde deverão ser as estações de passageiros e se haverá ou não integração com outros meios de transportes. A previsão é que tudo fique pronto entre dez e doze meses. Se as condições forem propiciais, aí sim um projeto de engenharia seria elaborado.
Expresso Planalto Central
A terceira opção é privada. Foi elaborada pelo consórcio de empresas Expresso Planalto Central e traz uma proposta diferente e mais ousada. Ela descarta o uso da antiga ferrovia da RFFSA e propõe a instalação de uma ferrovia eletrificada margeando a BR- 40 e a EPIA, do centro de Luziânia até a altura do Núcleo Bandeirante. Dali seguiria para o Aeroporto JK. Assim como vários aeroportos europeus, a proposta visa atrair passageiros do Entorno em viagens aéreas.
O trajeto do EPC – em vermelho na ilustração – ignora a atual ferrovia – em roxo – e sugere a criação de uma nova, eletreficada, ao longo da BR-40 e da Epia.
Do aeroporto só mais três estações: no Terminal da Asa Sul – no Setor Policial Sul – onde haveria baldeação para o metrô e o ônibus e, no futuro, quem sabe, ao VLT. Próxima parada, Estação Rodoferroviária e, por fim, o futuro Terminal da Asa Norte, onde o GDF pretende fazer integração do BRT-Norte e VLT do Plano Piloto. Estudos técnicos ainda vão analisar a possibilidade de uma parada no Terminal do BRT, em Santa Maria, e-ou, próximo ao Catetinho, onde há a confluência de passageiros do Gama e Santa Maria.
Trata-se de um projeto caro: de R$ 6 bilhões. Os empreendedores, que segundo informações do mercado contam com a participação de um grupo ferroviário alemão, pretendem custear o Expresso Planalto Central com receita imobiliária. A leitura é que viagens de 28 minutos entre o Noroeste e Luziânia, o Entorno Sul vai ganhar um novo patamar. “Quem hoje sonha morar nos padrões do Lago Sul ou Lago Norte, mas não tem o dinheiro suficiente, poderá se ver numa bela casa com piscina na região de Valparaiso” – comenta um técnico do Consórcio.
Os trens desse Metrô de Alta Velocidade se assemelham aos já usados na Alemanha e na índia. Podem trafegar em até 160 km por hora – é o dobro de um metrô normal e a metade de um trem bala. Possuem dois andares e a capacidade de transportar dois mil passageiros por viagem, equivalente a capacidade de dez ônibus articulado do BRT. O projeto se propõe a transportar diariamente 58.600 passageiros a valores próximos de R$ 12,00 a passagem. Seus promotores defendem uma ampla integração dessa linha com os demais modais que o Distrito Federal opera ou vier a operar: ônibus, BRT, VLT e até mesmo o Trem Regional caso CBTU ou o Ministério dos Transportes decidam implementá-los.
O Ministério dos Transportes não comenta a tramitação desse projeto. A CBTU diz desconhecê-lo e a secretaria de Mobilidade de Brasília diz não ter sido chamada para tratar de nenhum dos três projetos. Pelo sim, pelo não, a prefeitura de Luziânia está fazendo encaminha o estudo técnico do BRT ligando a cidade à Santa Maria. Seguro morreu de velho.
Fonte:
https://chicosantanna.wordpress.com/...entorno-ao-df/