A racionalização da rede semiurbana já começou... e por Luziânia
Ao anunciar a "integração" com o BRT em Santa Maria, há quem imaginou que o trajeto a ser feito de Luziânia para o Plano Piloto seria pagar apenas uma passagem, fazendo a integração no Expresso DF.
Em primeiro lugar, o sistema semiurbano do Entorno não possui bilhetagem eletrônica, logo a integração temporal não é possível; como no sistema urbano do DF. A integração física, com transbordo em terminal sem pagar uma segunda tarifa; ou complementar a tarifa até o valor teto de R$ 5,00 como no sistema urbano distrital, também não vai ocorrer. Logo, não existe integração entre os sistemas semiurbano e urbano distrital; ainda.
Como vai funcionar?
A tarifa do ônibus semiurbano a ser operado pela empresa CT Expresso, Luziânia-Santa Maria, será paga em dinheiro (R$ 2,00) e circulará das 9h às 16h. Para usufruir do transporte do DF na estação do BRT de Santa Maria, operado pela Pioneira, o usuário deverá adquirir um cartão do Sistema de Bilhetagem Automática (estudante, especial, sênior, vale-transporte, bilhete único e cidadão).
Ou seja, além de desembolsar R$ 2,00 no trajeto Luziânia-Santa Maria; o passageiro vai desembolsar mais R$ 5,00 para chegar ao Plano Piloto; porém com a vantagem de pegar mais ônibus urbanos do sistema distrital ou metrô pagando apenas uma única tarifa, desde que possua algum cartão do SBA/DFTrans.
É essa vantagem que a ANTT defende, já que no sistema atual o passageiro desembolsa R$ 5,85 de Luziânia/Brasília; e para complementar o trajeto utiliza o sistema urbano do DF; cuja tarifa varia de R$ 2,50 a R$ 5,00.
De acordo com a ANTT, a iniciativa é avaliar a implantação da integração operacional entre linhas interestaduais que fazem a ligação entre cidades do entorno do DF com as linhas que atendem ao sistema urbano do DF, de forma a possibilitar a oferta de novas soluções aos usuários.
Integração arrastada
Em março de 2016, um acordo de cooperação técnica entre a ANTT e a Transit (Associação Brasiliense das Empresas de Transporte Coletivo Urbano de Passageiros) foi assinado para avaliar a integração dos sistemas de transporte.
O acordo prevê a realização de estudos técnicos e jurídicos para a apresentação de proposta de integração dos serviços de transporte rodoviário interestadual semiurbano de passageiros entre o Distrito Federal e municípios do seu Entorno, geridos pela ANTT, com os serviços integrantes do chamado Serviço Básico Rodoviário do Sistema de Transporte Público Coletivo do Distrito federal (o "STPC/DF"), geridos pela SEMOB/DF, de modo a demonstrar a viabilidade de constituição de uma REDE INTEGRADA DE TRANSPORTE PÚBLICO COLETIVO entre o Distrito Federal e municípios do Entorno que compõem parte da RIDE-DF (RIT/DF).
Hoje um dos maiores desafios para a integração dos sistemas e formar uma rede única de transportes é a segregação institucional.
Atualmente o serviço semiurbano não possui nenhum tipo de integração ou ligação com a rede do Distrito Federal, apesar de utilizar praticamente o mesmo sistema viário e os mesmos equipamentos urbanos locais (pontos de parada e terminais rodoviários), ocasionando superposição de linhas e de atendimentos.
As linhas semiurbanas possuem legislação específica e possuem metodologia diferenciada de apropriação de custos. As tarifas são definidas em função tanto da quilometragem da linha quanto do tipo de serviço prestado. Assim, a estrutura vigente contempla um conjunto elevado de níveis tarifários, definidos pela ANTT.
Para uma futura integração física e tarifária entre o serviço urbano do DF e o serviço semiurbano, serão necessários estudos que visem à compatibilização dos modelos de remuneração e delegação adotados. Deverão ser instituídos mecanismos eficientes de rateio da receita arrecadada na busca do equilíbrio econômico-financeiro entre os operadores e os sistemas. Uma questão importante a ser aprofundada é a cobertura dos benefícios de gratuidades e descontos introduzidos mediante legislação distrital, a exemplo do ocorrido com o benefício concedido aos estudantes.
Racionalização
A chamada integração operacional da ANTT é em realidade a racionalização da rede semiurbana desenhada no edital de licitação, que até hoje não tem previsão de ser relançado. No certame detalham-se as linhas excluídas no processo de racionalização e as linhas que receberam demanda de linhas excluídas. Ao todo foram excluídas 107 linhas unidirecionais e 4 linhas bidirecionais. Foram efetuados ajustes de itinerários em 7 linhas.
A racionalização tem objetivo de obter um sistema sustentável do ponto de vista operacional e financeiro e tornar os serviços a serem licitados mais atrativos para potenciais operadores. Dessa forma, diante da existência de itinerários sobrepostos ou semelhantes em uma mesma quota de exploração, optou-se pela racionalização da rede de linhas de modo a conferir maior eficiência à rede a ser licitada.
Neste contexto, os principais objetivos da racionalização foram:
- Reduzir o número de linhas unidirecionais (com sentido único) no sistema;
- Reduzir o número de linhas com linhas de baixa demanda no sistema;
- Organizar e adequar a forma de atendimento operacional com vistas à redução da capacidade ociosa do sistema, mantendo ao mesmo tempo o atendimento à demanda dimensionada;
- Contribuir para a modicidade tarifária.
Embora o foco principal do processo de racionalização fosse a exclusão de linhas unidirecionais com a transferência da demanda para linhas bidirecionais que pudessem atender a demanda a contento, houve agregação entre linhas de sentido único, assim como foram identificadas linhas bidirecionais que foram agregadas, por possuírem itinerários similares.
Sistemas fortemente pendulares
Tanto o sistema de transporte do DF quanto do Entorno, ao contrário do restante do país, possuem forte pendularidade nos deslocamentos, ou seja, picos acentuados de demanda no início e fim dos dias úteis, conforme o sentido da viagem e baixa demanda nos entrepicos. Segundo os resultados obtidos nas pesquisas operacionais divulgados pela ANTT, os deslocamentos obedecem preferencialmente motivos de trabalho e estudo.
Por Rafael Martins
Do Blog Pense Mobilidade
http://www.pensemobilidade.com.br/20...o-da-rede.html