Previsão para 2020: um verdadeiro colapso
Os veículos tomam conta das ruas do Distrito Federal. Com crescimento de 6,5% ao ano, a frota de automóveis do DF vem aumentando muito mais do que a população. São 1.435.383 veículos para uma população de, aproximadamente, 2,6 milhões de habitantes, o que resulta em uma média de 1,8 carros por pessoa. Além disso, todos os meses são emplacados, em média, de sete mil a oito mil veículos. Ou seja, caso a indústria automobilística mantenha o ritmo aquecido de crescimento, em cinco anos, serão cerca de dois milhões de veículos nas ruas. Mas será que a cidade está preparada para isso?
Na avaliação de especialistas, esse boom do mercado automobilístico está ligado à péssima qualidade do transporte público, à falta de planejamento urbano e às facilidades para a aquisição de carros. Como a frota se amplia em nível desproporcional à criação e à ampliação das vias, a falta de planejamento se reflete nos congestionamentos e na dificuldade que os motoristas encontram diariamente para achar vagas nos estacionamentos.
As previsões são alarmantes. De acordo com Marcelo Dourado, diretor da Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco), em 2020 ninguém conseguirá sair de casa. “Estudos mostram que haverá um colapso das principais vias do DF em 2020. Falta muito pouco, apenas sete anos”, relatou o diretor da Sudeco.
Foto: Raphael Ribeiro
Confirmação
A previsão, capaz de causar preocupação até para os mais céticos, é confirmada pelo secretário-chefe da Casa Civil, Swedenberger Barbosa, em entrevista publicada no Portal Brasil na Copa. “Se até 2020 não forem feitas todas as obras estruturais na mobilidade, a cidade para”, admitiu.
Soluções
Para Marcelo Dourado, da Sudeco, a questão da mobilidade urbana precisa ser pensada a partir de um novo paradigma. “Nos dois últimos anos, a Sudeco trabalha para que o trem seja a opção viável, se quisermos ter algum futuro. As principais cidades no mundo se movem principalmente pelos trilhos do metrô, VLT – veículo leve sobre trilhos – e trens de média e alta velocidade”, destacou.
Práticas sustentáveis
Para o doutor em Engenharia de Transporte Willy Gonzales Taco, cabe ao Estado o incentivo de formas sustentáveis para o uso do veículo.
“É preciso promover formas sustentáveis para compartilhar o uso do veículo. Se o Estado reforça a ideia da compra, também deveria incentivar a conscientização do uso”, concluiu.
Segundo Gonzales, além de medidas governamentais para a melhoria da mobilidade, os motoristas têm papel fundamental nesse cenário. “O comportamento das pessoas deve ser mudado. Uma alternativa seria a implementação de pedágios e rodízios de veículos”, argumentou.
Para população, solução ainda está distante
A especialista em políticas públicas Rayane Tavares destaca que o argumento de deixar o carro em casa e utilizar o transporte público não é tão simples. "Não é uma tarefa fácil na prática. Afinal, isso está ligado a outros fatores da vida do indivíduo”, declara. Segundo ela, para resolver a questão da mobilidade é fundamental repensar na estrutura da cidade.
E no olho do furacão está a população. Motoristas reclamam de congestionamentos intermináveis, das dificuldades de estacionar e confessam não acreditar em melhorias. Para a servidora pública Deia Monteiro, 53 anos, as obras de mobilidade urbana estão longe de resolver o problema. “Essas obras não favorecem a população e não fornecem segurança para quem deseja usar outros tipos de transporte”, disse.
BICICLETA
Adepta do ciclismo, ela conta que em três dias da semana utiliza a bicicleta para ir trabalhar. “Mas fico insegura. Os ciclistas não têm segurança para trafegar nas vias do DF. Se mudassem isso, talvez mais gente se animasse”, contou.
Em função do seu ofício, o taxista Eli Camelo, 39 anos, passa a maior parte do dia no trânsito e relata que a situação está cada vez mais caótica. “Está muito difícil. Eu não posso abandonar a minha profissão, mas confesso que é muito estressante. Chego a ficar cerca de duas horas parado no congestionamento”, afirmou.
O chaveiro Miguel Landim, 43, passa por situação semelhante. “Tenho que sair de casa às 5h para chegar a tempo. E como o meu trabalho é feito dentro do meu veículo, preciso chegar a tempo para estacioná-lo em um bom lugar”, relata. Ele frisa que não tem esperança de que as coisas melhorem.
“A situação está caótica”
Na opinião do motorista Ferreira Rebouças, 27 anos, falta planejamento. “A situação está caótica. Vejo prédios e mais prédios sendo construídos e nada de investirem na ampliação das vias e em estacionamento”, pontua. De acordo com ele, outro problema é a formação dos novos motoristas. “Está muito fácil tirar carteira de habilitação, e motoristas despreparados provocam mais acidentes. Com esse número grande de veículos e motoristas sem habilidades, a coisa fica feia”, desabafou.
O número de condutores habilitados também cresce. Atualmente, há 1,4 milhão de condutores habilitados. Por ano, o índice no DF apresenta crescimento de 4%.
Obras
As obras que visavam a melhoria da mobilidade urbana até a Copa de 2014 eram classificadas como o maior legado do mundial. Contudo, na realidade não foi isso que aconteceu. Além de projetos que não saíram do papel, existem casos de obras interrompidas por suspeitas de irregularidades e de projetos que se arrastam.
Exemplo disso é o projeto do VLT, que contou com investimento de R$ 1,55 bilhão. A obra segue parada há três anos. Em breve será construído o viaduto no Setor Policial Sul, que permitirá que o VLT chegue ao terminal da Asa Sul.
Já o Veículo Leve Sobre Pneus (VLP) deve atender cerca de 600 mil passageiros do Gama e Santa Maria. Para isso, será criado um corredor exclusivo de ônibus até o Plano Piloto. O projeto deveria ter ficado pronto em junho deste ano.
De acordo com o GDF, a previsão para conclusão da primeira etapa da obra do VLP será em dezembro de 2013. Já a segunda etapa, segundo o órgão, será concluída em maio de 2014.
Ponto de Vista
Para o especialista em transporte Antônio Marques, a situação atual é fruto de uma gestão inadequada. “No decorrer dos últimos anos, o governo se mostrou incapaz de executar ações na mesma velocidade em que surgiam os problemas. As consequências estão cada vez mais presentes no dia a dia do brasiliense, tenha ele carro ou não”, constatou. Ele destaca que a lentidão, além de aumentar o tempo de viagem, estressa o motorista e quem usa transporte público. “Quem depende do transporte público também é afetado porque não há políticas que privilegiem o transporte coletivo em detrimento do individual. O que temos são ônibus lotados e de péssima qualidade, que disputam lugar com carros, ocupados, muitas vezes, só pelo condutor”.
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