Responsáveis por planejar a mobilidade não contam com graduação específica
José Lima Simões fez pós-graduação em trânsito e hoje comanda a área de engenharia do Detran-DF
Brasília desperta a curiosidade de moradores e turistas não apenas pela modernidade do seu traçado urbanístico e por seus inigualáveis monumentos e prédios. A atípica malha viária da capital mistura vias largas e elevados limites de velocidade, em pleno centro urbano, com tesourinhas, rotatórias, radares e barreiras eletrônicas, num desafio ao planejamento da mobilidade. Para aplicar e conciliar todas essas ferramentas, entra em ação a engenharia de tráfego.“Ela é responsável pela operação do trânsito”, sintetiza o diretor de engenharia do Departamento de Trânsito do Distrito Federal (Detran-DF), José Lima Simões, 57 anos.
Entre as atribuições dos engenheiros está a aprovação das medidas propostas pela Secretaria de Planejamento e Gestão do DF. “Além disso, avaliamos se as curvas são adequadas, se o estacionamento está previsto em lei, se a sinalização é suficiente”, explica. Simões conta que o trabalho dos engenheiros de tráfego leva em conta três fatores principais: a segurança, a fluidez e o conforto — nessa ordem de prioridade.
Diferentemente do que pensa a maioria das pessoas, o cuidado com as condições de trânsito não se restringe às vias pavimentadas. Também compete a esses profissionais fiscalizar as calçadas, as ciclovias, os canteiros e outras estruturas. Afinal, são elas que permitem o fluxo adequado de pedestres, ciclistas e pessoas com deficiência física. “O Distrito Federal tem atualmente cerca de 1,3 milhão de automóveis e 2,6 milhões de habitantes — uma proporção de duas pessoas por carro. Todo cuidado é pouco para organizar e dar equilíbrio a essa relação”, observa José Lima.
No Brasil, não existe curso de graduação em engenharia de tráfego. A formação desses engenheiros se desenvolve, principalmente, na prática. Trata-se de uma habilitação não reconhecida pelo Conselho Federal de Engenharia, Arquitetura e Agronomia (Confea). “O engenheiro de tráfego é um profissional formado em engenharia civil que vai se especializando”, define Paulo César Marques, professor do Programa de Pós-Graduação em Transportes (PPGT) da Universidade de Brasília (UnB).
A especialização foi o caminho que José Lima Simões seguiu. Após formar-se em engenharia civil pela UnB, em 1980, o baiano de Feira de Santana buscou a pós-graduação em engenharia e administração do trânsito na Fundação Getulio Vargas do Distrito Federal (FGV-DF) e, desde 1983, é concursado do Detran. Hoje, ele não se considera mais um engenheiro civil. “Durante a graduação, descobrimos as vocações. Sempre gostei de matérias relacionadas a rodovias e transportes e meu trabalho final de curso foi sobre logística e transportes”, lembra. Segundo Simões, a demanda por novos profissionais é grande (leia Saiba mais). “Aqui no Detran, por exemplo, somos uma equipe de seis — três engenheiros e três arquitetos — e queremos aumentar para 16, mas falta mão de obra qualificada”, admite.
No Distrito Federal, o Detran acumula as atribuições estaduais e municipais. Assim, a responsabilidade pelos projetos, pela sinalização e pela fiscalização do tráfego de pessoas e veículos está sob a mesma tutela. Outro órgão, entretanto, necessita de profissionais na cidade. O Departamento de Estradas de Rodagem (DER-DF) é responsável pelas rodovias, abundantes em Brasília.
Segundo o superintendente de trânsito da DER Murilo Melo, 46 anos, sempre há demanda por novos profissionais. “São mais de 50 rodovias, incluindo o Eixo Rodoviário. Nós, do DER, devemos sempre ter funcionários para garantir fluidez e segurança nelas”, sintetiza. Murilo ressalta que uma peculiaridade do trabalho do engenheiro de tráfego é ter que lidar com acidentes. “No Eixo Rodoviário, ocorre colisão frontal entre veículos. Também é comum o atropelamento de pedestres que tentam atravessar a via em vez de utilizar as passarelas subterrâneas. Faz parte do trabalho da engenharia de tráfego procurar soluções para esses problemas”, define.
Onde estudar
Na Universidade de Brasília é oferecido o Programa de Pós-Graduação em Transportes, que disponibiliza mestrado e doutorado. Fora da capital federal, existem mais opções de especialização nas regiões Sudeste e Nordeste:
» Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
» Universidade de São Paulo (USP) — Escola Politénica (EPUSP) e Escola de Engenharia de São Carlos (EESC)
» Universidade Federal do Ceará (UFC)
» Instituto Militar de Engenharia (IME)
Saiba mais
Consultoria
Além do trabalho no Departamento de Trânsito do Distrito Federal e no Departamento de Estradas de Rodagem, as empresas de consultoria representam a melhor oportunidade de emprego para os engenheiros de tráfego na capital federal. O governo os contrata para fazer a análise do impacto do trânsito viário. Com os eventos esportivos que ocorrerão no país — Copa das Confederações, Copa do Mundo e Olimpíadas —, as chances de contratação devem aumentar consideravelmente.
http://www.correiobraziliense.com.br...pecifica.shtml