Crise chega ao mercado do sexo e prostitutas estimam queda de faturamento
Profissionais do setor justificam que, em tempo de recessão, esse tipo de lazer é um dos primeiros itens a serem cortados
Foto: Carlos Vieira
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O frio não afastou das ruas a garota de programa Fernanda*, 25 anos. Há três anos trabalhando como prostituta, ela não pode deixar que o clima a espante dos afazeres diários, principalmente agora, em que o cenário econômico do país não está favorável nem mesmo para as profissionais do sexo. “Convivo com homens de vários mercados. São farmacêuticos, advogados, servidores. Se a crise chegou até eles, é claro que também chegou até nós”, garante. Fernanda, que trabalha em Taguatinga, afirma que começou a sentir os efeitos desde janeiro — segundo ela, o atraso no pagamento dos servidores do Governo do Distrito Federal (GDF) foi o começo de tudo. “Foi um mês horrível, mas ainda ficou pior. Acredito que eu esteja ganhando até 50% menos atualmente”, calcula.
Apesar de a média de programas ser flutuante, ela lembra que, até o ano passado, conseguia tirar cerca de R$ 2,4 mil por semana trabalhando de quarta a domingo. Agora, mesmo batendo ponto de segunda a sábado, só chega a juntar R$ 800. “Nunca fiquei uma noite sem trabalhar, mas está bem difícil. E sinto isso na hora de gastar o que ganhei: antes, com R$ 40, comprava lanches para o meu filho que duravam uma semana. Agora, não gasto menos de R$ 110 para comprar os mesmos produtos.”
Não há números oficiais para definir o quanto as profissionais desse mercado têm sido afetadas pela crise econômica, mas a reclamação é geral: seja daquelas que ficam nas ruas, seja das que atendem em apartamentos do Plano Piloto. “Posso garantir que houve uma queda de 30% a 50% na quantidade de programas. Havia sentido uma diminuição parecida em fevereiro, mas isso é um efeito do carnaval. Essta fase atual começou em junho”, assegura Natália*, 38 anos, há quatro na profissão, que mora no Riacho Fundo I.
Mesmo as que oferecem serviços diferenciados reclamam. Carol*, 23, também faz massagens no Sudoeste, onde atende. Ela diz que cobra entre R$ 80 e R$ 170, mas todos os clientes têm pedido desconto. “Não tenho como diminuir o preço. Se fizer isso, vou ter prejuízo”, reclama.
O DF não tem um grupo específico que reúna as profissionais dessa área. Entretanto, Cida Vieira, presidente da Associação das Prostitutas de Minas Gerais (Aprosmig), que conta com mais de 3,5 mil associadas, garante que a crise é real e tem resultado, inclusive, em uma maior movimentação das garotas de programa entre as cidades do Brasil. “Este ano, já conversei com diversas meninas de Brasília e Goiânia que vieram para cá tentando nosso mercado. Pelo menos a média de programas diários tem se mantido”, frisa.
Parcelado no cartão
De acordo com Aparecida Silva, conselheira fiscal da Aprosmig, muitas estão procurando outras formas de conseguir manter os clientes. Depois de oferecer o parcelamento dos programas com cartão de crédito, o desconto tem sido a opção mais comum e viável. Mesmo assim, muitas prostitutas querem mudar de ramo. “Há várias delas pensando em abandonar o serviço para trabalhar como diaristas ou cuidadoras de idosos, porque isso está dando mais retorno.” Para Natália, que trabalhou como garota de programa por três anos na Europa, há um efeito cultural que agrava a situação das prostitutas brasileiras. De acordo com ela, aqui, os homens ainda se sentem na obrigação de serem os provedores da casa, o que faz com o sexo pago seja o primeiro serviço cortado da lista de prioridades. “Lá, o dinheiro que os homens ganham não vai todo para cuidar da casa. Aqui, muitos ainda acham que têm que sustentar tudo e isso muda a nossa realidade”, acredita.
Outros profissionais da indústria do sexo também reclamam da situação econômica atual. Eusébio Ribeirinha, presidente da Associação Brasileira de Motéis (Abmotéis), afirma que, desde o início de 2015, a queda média de faturamento tenha ficado em 20%, principalmente entre os clientes das classes B e C. “A última vez que havíamos sentido algo assim foi em 2009, quando ocorreu outro momento de crise. Mas, naquela época, não fomos tão afetados quanto agora.” Por isso, táticas como promoções têm sido evitadas, já que trazem um aumento nos gastos. “O que os empresários têm tentado fazer é trazer clientes que não costumam ir a motéis, criando uma ideia de hospedagem alternativa.”
Pelo menos um grupo tem visto seus ganhos aumentarem com a crise. Dados da Associação Brasileira das Empresas do Mercado Erótico e Sensual (Abeme) mostram que esse mercado cresceu 8% em 2014 e continua em ascensão em 2015. Adelaide Rodrigues, proprietária de um sex shop no Guará, estima em 25% o crescimento nas vendas desde janeiro. “Isso ocorre porque essa é a forma mais prática, econômica e prazerosa de economizar”, brinca a empresária. Porém, ela frisa que o perfil do consumidor mudou. Se antes arriscavam mais nas escolhas, agora chegam com valores fixos e sabendo o que querem comprar, para evitar desperdício. “Junho é um mês de mais vendas por causa do Dia dos Namorados. Acredito que os casais não devam viajar em julho e isso vai manter as vendas em alta.”
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