A pedido do G1, profissionais fizeram esboços do que mudariam na cidade.
Brasília, que é tombada, completa 50 anos de fundação nesta quarta-feira.
No aniversário de 50 anos de Brasília, o G1 convidou quatro arquitetos da cidade a propor intervenções ao projeto original do Plano Piloto, desenvolvido por Lúcio Costa e tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). Para os quatro profissionais, o mais conhecido cartão postal da cidade –a Esplanada dos Ministérios– poderia passar por transformações que não violariam o traçado original.
O projeto desenvolvido pelas arquitetas Veridiana Goulart e Paula Farage transformaria a área que divide a Esplanada dos Ministérios em uma imensa alameda, ladeada por fileiras de árvores e com passeios largos para pedestres. “Tem mais a ver com o conceito do que com mudança”, diz Veridiana.
Projeto desenvolvido pelas arquitetas Veridiana Goulart e Paula Farage, que propõem mudanças na área de gramado da Esplanada dos Ministérios, com a criação de passeios largos ladeados por árvores nativas do cerrado
A proposta paisagística das arquitetas é criar um ambiente visualmente mais agradável e que proporcione sombra para as pessoas que andam na Esplanada. “Brasília é uma cidade com muitas árvores, mas as pessoas estão sempre no sol”, diz Veridiana. “Nosso projeto não descaracteriza nem tira a monumentalidade do espaço. Ele pode sim ser monumental, pode sim ter esse vazio, mas pode ter também espaço para o pessoal andar, jogar frisbee.”
Pelo projeto, as calçadas originais da Esplanada, de 1,2 metro de largura, continuariam junto à via, mas ganhariam fileiras de árvores nativas do cerrado e seriam seguidas de um passeio de seis metros de largura, para que grupos de pessoas pudessem caminhar “sem aperto”.
As arquitetas Paula Farage e Veridiana Goulart
De acordo com Veridiana, o projeto proposto pode ser aplicado a toda a cidade. A arquiteta diz que Brasília tem uma integração entre as edificações projetadas por Oscar Niemeyer e o plano urbanístico de Lúcio Costa, mas falta um projeto paisagístico que una os dois conceitos. “Cadê o que liga o urbanismo à arquitetura? Cadê o paisagismo?”, questiona.
Os projetos propostos por outro arquiteto ouvido pelo G1, Sérgio Pamplona, priorizam a sustentabilidade. Sua intervenção na Esplanada dos Ministérios prevê a criação de canais de infiltração ao longo do gramado que separa as duas vias do Eixo Monumental, com um passeio largo que se entrecruza e é unido no meio do trajeto por uma ponte de bambu.
Proposta de intervenção urbana sustentável para a Esplanada dos Ministérios desenvolvida pelo arqueiteto Sérgio Pamplona. O projeto prevê pequenas bacias de captação de águas pluviais, que dariam suporte a plantas e depois se dispersariam no solo
Os canais de infiltração são pequenos “lagos” com cerca de dez metros de diâmetro e meio metro de profundidade com vegetação. Esses espaços, chamados de bacias de infiltração, acumulariam água da chuva, mantendo as plantas vivas e depois se dispersando no solo. Quando uma dessas bacias ficasse cheia, a água excedente escorreria por canaletas no gramado até a próxima bacia e assim por diante.
O arquiteto Sérgio Pamplona
“A proposta como um todo é tornar a cidade ecossustentável”, diz Pamplona. Sua sugestão, porém, não prevê o plantio de árvores na Esplanada. “Deixaria como concessão ao Lúcio Costa. Deixaria sem árvores”, afirmou.
Em outra proposta, o arquiteto criaria lagoas de tratamento biológico de água para o espelho d’água da Catedral de Brasília, com sua reutilização para refrigeração do prédio. A ideia é bombear a água por meio de energia solar para tanques com plantas aquáticas na parte de trás da catedral. Depois de “filtrada” pelas plantas, a água seria despejada em um poço de cinco metros de profundidade enterrado no solo, onde perderia calor. Depois, seria bombeada para a parte superior da catedral, escorrendo por seus vidros.
Em outras intervenções, o arquiteto Sérgio Pamplona propõe a criação de uma lagoa de tratamento biológico para a Catedral de Brasília, que ainda serviria de base para um 'refrigerador verde' e a criação de tetos verdes nas quadras da cidade
“A catedral é uma estufa. Isso criaria uma lâmina de água que resfriaria a temperatura interna da catedral”, diz Pamplona. “Seria uma atualização respeitosa de um dos mais belos monumentos da cidade, que serviria de exemplo de ‘esverdeamento’ de uma estrutura não pensada nesses termos.”
O arquiteto propôs ainda a criação de tetos verdes nos prédios da cidade, com a plantação de grama. “Os tetos verdes reduziriam a temperatura da cidade, além de resolver os problemas históricos de moradores do sexto andar dos prédios, que sofrem ou com calor ou com infiltração”, afirmou. “A ideia é mostrar o que dá para fazer com soluções sustentáveis simples.”
Esplanada e praça
O professor Jaime Almeida, do curso de pós-graduação da Faculdade de Arquitetura da Universidade de Brasília (UnB), disse ao G1 que também alteraria a Esplanada dos Ministérios. Ele substituiria a área do gramado central por um bosque de árvores nativas do cerrado. “Minha proposta mais radical é a restauração de todo o cerrado que foi destruído entres os eixos Norte e Sul com a Esplanada dos Ministérios”, disse.
Área da UnB onde Niemeyer havia projetado uma praça, cujo projeto nunca foi executado (acima) e a mesma áera com o projeto sobreposto à imagem de satélite (abaixo) na sugestão de intervenção do professor Jaime Gonçalves de Almeida, da pós-graduação da universidade
Segundo Almeida, áreas de cerrado foram removidas durante a construção de Brasília. “Destruíram e jogaram árvores da Mata Atlântica, descaracterizando completamente a cidade”, afirmou.
O professor disse que também executaria o projeto da Praça Maior na UnB, que foi projetada por Niemeyer, mas cujo projeto não saiu do papel. No local onde era prevista a construção da praça há hoje prédios nas extremidades. O projeto original previa a construção de um museu da ciência e um grande auditório. Na década de 70, o espaço ganhou um projeto de paisagismo.
“É possível fazer uma adaptação, porque o projeto se superpõe a dois edifícios que existem hoje. É possível reconfigurar”, disse. Almeida afirmou ter ficado surpreso ao colocar o desenho sobre a foto. “Foi uma surpresa. Não pensei que fosse tão exato e tão apropriado o projeto dele, feito nos anos 60, 62, para os tempos atuais.”
fonte:
http://g1.globo.com/brasil/noticia/2...epaginado.html