Redes planejam expansão até 2011
Por Paola de Moura, do Rio
Norman Baines, da Applebee's: "(Vamos) pescar onde está dando peixe"
Enquanto nos Estados Unidos as redes de casual dinning, restaurantes de refeições rápidas, foram obrigadas a fazer uma reengenharia de cardápio, reduzindo preços e tamanhos das refeições para enfrentar a crise e o ataque das empresas de fast food sobre o consumidor que estava com o bolso mais vazio, no Brasil, a maioria cresce e planeja abrir lojas nos próximos dois anos.
A rede Applebee's, líder mundial do setor, inaugurará mais duas em São Paulo, uma na capital e outra no interior em 2010. A marca chegou ao Brasil em 2004 e tem nove lojas.
Segundo Norman Baines, diretor regional para a América do Sul, o objetivo é aumentar a clientela nas cidades onde já está instalada, dando mais opções aos frequentadores. Em 2011 a rede chega a
Brasília, Curitiba e a uma cidade no Nordeste, hoje já há uma no Recife. Baines diz que a rede terá em 2009 um crescimento de 14,2% em vendas.
O sistema é de franquias. O país é dividido em quatro áreas geográficas: São Paulo, Nordeste, Centro - que incluiu o Rio, Minas Gerais e
Brasília - e o Sul. Cada um é gerido por um grupo de empresários. O investimento para abrir uma loja custa cerca de R$ 2,5 milhões.
A estratégia, diz Baines, é "pescar onde está dando peixe" . E o Brasil tem um mercado grande, em forte expansão. No entanto, continua o diretor, ainda é preciso que haja melhor estrutura. Muitas vezes, é necessário ajudar um fornecedor a se equipar para oferecer o que os restaurantes precisam.
Dados do setor indicam que nos próximos cinco anos, cerca de cinco milhões de consumidores chegarão ao mercado de restaurantes no Brasil, com o crescimento da classe C. O gasto com comida fora de casa vai crescer dos atuais 24% para 30% do orçamento doméstico. Nos maiores países da Europa, é de 50%. E o setor no Brasil ainda está muito fragmentado em pequenos restaurantes, apenas 1% está nas mãos das grandes redes.
Considerando esses dados, a rede americana Outback, que apresenta cardápio inspirado na Austrália, abrirá quatro restaurantes este ano. Duas cidades já foram definidas:
Brasília e Vitória. O número é o mesmo todos os anos e a crise não fez cair vendas ou alterar projetos. Desde 1997, já foram abertos 27 restaurantes no país. "Não fomos afetados pela crise. O mercado interno foi a grande salvação do país", diz Salim Maroun, presidente da Outback no Brasil. Maroun projeta aumento de 10% em 2009 e 2010.
Todos os novos sócios são funcionários da empresa que começaram como atendentes. O investimento em uma loja é de cerca de R$ 4,7 milhões. O sócio entra com R$ 60 mil e o restante é gasto pela rede. "O papel do sócio é dedicar pelo menos sete anos da sua vida ao Outback", diz o presidente. Questionado sobre o que fazer para vender mais, diz que não precisa mudar cardápios ou fazer promoções. "Há filas diariamente nas lojas, mesmo nos dias de semana. Além disso, o restaurante de Botafogo (no Rio) é o número um em clientes atendidos no mundo".
Duas grifes brasileiras, Viena e Ráscal, operam no mesmo estilo - restaurante informal - e estão investindo. A rede Viena, comprada da família Bielawski em 2007 pela International Meal Company (IMC), empresa do fundo americano Advent, tem 34 lojas e continua com planos agressivos de expansão. A empresa não confirma oficialmente os projetos, mas o Valor apurou que o objetivo é crescer no Centro-Oeste e na região Sul.
A ideia é aproveitar a operação já estabelecida e ganhar escala. Em 2008, a rede faturou R$ 180 milhões e nos nove primeiros meses deste ano, R$ 153 milhões. Os restaurantes, unidades express e cafés estão passando por uma reformulação e rejuvenescimento. Parte da comida também está sendo produzida numa cozinha industrial única, o que reduz os custos.
A padronização é o principal objetivo da IMC para garantir qualidade para a rede que está presente em cinco Estados do país. Um pesquisador, chamado internamente de Mr Shopper (ou senhor consumidor), visita os restaurantes e checa o atendimento.
O Ráscal vai investir em reformas e em 2011 volta a se expandir. Seus proprietários, Roberto Bielawski e sua mulher Liane Ralston, ex-donos da rede Viena, abriram uma loja em 1994 e hoje já têm nove restaurantes no Rio e em São Paulo. Este ano, segundo Bielawski, será um ano de consolidação das operações do Rio de Janeiro e de reformas estruturais e arquitetônicas nas lojas de São Paulo. O investimento será de R$ 3 milhões. Em 2010, uma nova loja será aberta, provavelmente em Alphaville, em São Paulo. O investimento para a abertura é de R$ 5 milhões, feito pelos proprietários.
Nos EUA, as redes de casual dinning, que combinam preços moderados e atendimento informal, pagaram o preço da crise. Lideradas pelo McDonald's, as redes de fast food viram na crise a chance de aumentar a clientela. Com isso, melhoram cardápios, oferecendo opções de refeições completas mais baratas do que os concorrentes com preço superior. Em maio, no auge da crise, as lojas do McDonald's, por exemplo, cresceram 2,8% no mercado americano, 7,6% na Europa e 6,4% na Ásia.
A rede T.G.I. Fridays, que tem apenas um master franqueado no Brasil, não planeja expansão nos próximos dois anos. Vai investir R$ 7 milhões para remodelar suas cinco lojas no país, onde chegou em 1995. Será uma mudança de infra-estrutura, diz Daniel Borghese Muro, gerente de marketing. Como os equipamentos de cozinha industrial diminuíram de tamanho, as cozinhas encolherão e os salões aumentados para receber mais clientes. A mudança foi uma exigência da matriz americana. Por isso, apesar do crescimento de 5% em 2009 e da boa possibilidade de maior expansão em 2010, os restaurantes ficarão três meses fechados para obras. Primeiro em Campinas e depois, São Paulo.
Fonte:
http://www.valor.com.br/arquivo/8041...ansao-ate-2011