Metrô/DF: Um sistema repleto de problemas
Foto: Kléber Lima
Diariamente, quase 150 mil pessoas passam pelas 24 estações do metrô do Distrito Federal. São usuários que dependem do transporte para trabalhar, estudar e cumprir outros compromissos. Pela manhã, a maior parte deles sai de casa ainda cedo, por volta das 6h, para chegar a tempo aos seus destinos. Porém, as recorrentes falhas e panes no sistema têm atrapalhado a vida dos cidadãos. Muitos, inclusive, chegam atrasados no trabalho e passam por situações constrangedoras em suas empresas. Os que estudam chegam a levar faltas por conta de problemas nos trens.
Em enquete feita no portal Clica Brasília, do Grupo Jornal de Brasília, 69,7% dos usuários confirmaram que já perderam compromissos por conta de falhas no sistema. E os índices não param por aí. Questionados sobre a qualidade do metrô, 76,32% dos internautas responderam que o transporte não funciona bem.
“O que noto é que muitos trens são velhos e sem reparos. Isso, aliado ao fato de que são poucos vagões, faz ainda com que estejam sempre lotados, principalmente nas horas de ida e volta do trabalho”, criticou a estudante Edlaine Oliveira, 25 anos. Para ela, a situação é vergonhosa e mostra o descaso do governo com relação à mobilidade dos passageiros.
TERCEIRIZAÇÃO
No período entre as 6h e 8h, os terminais do metrô ficam completamente lotados. Depois, no final da tarde, novamente, os usuários tomam conta das plataformas à espera dos trens. Luciano Costa, coordenador geral do Sindicato dos Metroviários do DF (Sindmetrô), acredita que o governo não trabalha, efetivamente, para levar melhorias ao sistema, que hoje tem uma empresa privada no comando dos reparos. “A questão de fundo é que o metrô de Brasília é um dos poucos metrôs brasileiros que terceirizou sua manutenção”, apontou.
Mesmo carregando seu filho de seis meses no colo, a atendente Sara Regia Silva, 21, teve dificuldades para conseguir sentar em um dos lugares do vagão. “É um total desrespeito. Faltam assentos e, principalmente, organização”, avaliou a passageira.
Além disso, ela reclamou das seguidas falhas nos trens. “Acho que a manutenção deve ser feita para evitar que o sistema pare, não falhe e não deixe de cumprir o horário. Os vagões estão sempre superlotados. Falta uma frequência maior e conservação. Mas não é o que acontece”, disse a atendente.
Ao todo, o metrô dispõe de 32 trens, cada um com quatro vagões. Contudo, parte deles falha constantemente. Ontem mesmo um deles falhou. Foi o segundo problema no sistema em menos de dois dias. Segundo a assessoria do Metrô-DF, entre as estações Onoyama e Praça do Relógio, ambas em Taguatinga, o trem não reconheceu o comando e, automaticamente, teve a velocidade reduzida para 20 quilômetros por hora.
“É bem comum que isso aconteça. Só que a gente não pode se acostumar, deixar isso assim. O governo tem obrigação de resolver isso. Afinal de contas, pagamos impostos”, afirmou Severina Morais, 53 anos.
“É comum que vagões precisem de conserto nos horários de pico. Tinham que colocar mais trens. A quantidade está pequena para esse tanto de gente. Muitas vezes, as pessoas chegam a se bater para conseguir entrar”, contou Juliana Bispo, 22 anos.
investimentos
Para o especialista em mobilidade urbana Paulo Cezar Marques, da UnB, os esforços para que o transporte funcione sem maiores problemas ainda são poucos. Ele acredita que faltam investimentos no sistema e, mais: faltam mais estações e trens.
“O sistema é falho e frágil. Além disso, o ideal é que abrangesse todo o DF, e isso não acontece. Por isso, essas panes são recorrentes e os vagões vivem superlotados”, apontou o especialista.
Ainda segundo ele, o metrô atende uma parcela pequena da população, porque a capacidade é pouca. “A infraestrutura das estações não permite”, observou.
Os custos com manutenção do metrô do DF são mais que o triplo do que o do Rio de Janeiro, que tem o dobro de estações e transporta quatro vezes mais passageiros. A manutenção na capital é feita pela empresa Metroman, que ganhou a licitação em 2007. Hoje, o gasto anual com os reparos é de R$ 134 milhões – no Rio é de R$ 31 milhões.
Os valores são questionados pelo coordenador do Sindmetrô. “É, visivelmente, superfaturado. E o pior, não funciona. Por esse valor, todos os dias a população do DF deveria ter o melhor sistema do País”, criticou Luciano Costa.
Entretanto, de acordo com o diretor de operação do Metrô, Fernando Sollero, o gasto em Brasília é maior porque cobre o reparo de 32 trens, mais os trilhos, a mão de obra e a conservação das estações.
Para o especialista em transporte público David Morais, da UnB, o valor é razoável e deveria cobrir todas as possíveis falhas no sistema. “Isso não deveria acontecer. Qualquer sistema de transporte quando falha deixa um monte de gente na mão. Faltam vistorias constantes e investimento em tecnologia, de uma maneira ampla”, explicou.
A realidade é também criticada pelo marceneiro Diogo Pereira, 32, que sonha poder confiar na pontualidade do sistema. “Quase todo dia acontece um imprevisto com os trens e não consigo chegar na hora. É difícil explicar isso para os patrões”, desabafou.
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